Campus Party revela importante achado arqueológico húngaro do século XI

12 de fevereiro de 2019 Artes e Cultura
Campus Party revela importante achado arqueológico húngaro do século XI

Importante achado arqueológico húngaro dos séculos XI ou XII terá a face revelada em 3D durante a Campus Party Brasil, no dia 15/02

Um projeto arqueológico conduzido em um cemitério público dos séculos XI e XII na fronteira de Pusztaszentlászló (Província de Zala, Hungria) trouxe à superfície os restos mortais de cerca de 8.000 pessoas enterradas. Os arqueólogos conseguiram informações importantes relativas ao vestuário das pessoas daquela época, e costumes da sociedade, mas a maioria dos crânios achados foram considerados impróprios para bons trabalhos de reconstrução facial. Até o momento as obras feitas a partir dos achados foram estátuas e desenhos mais tradicionais. Até 2017 quando o 3D designer especialista em reconstrução facial, Cícero Moraes procurou a Embaixada da Hungria para apresentar os seus trabalhos de reconstrução do Homem de Lagoa Santa, cujo crânio foi descoberto pelo húngaro Mihály Bányai (1920-2005), no Brasil. Ele que é criador do Museu da Lapinha, MG. Bányai também possuía o crânio de uma jovem de 25 anos de sua descoberta na Hungria dos anos 70. Assim começou esse projeto que uniu a competência do brasileiro Cícero que é um grande especialista em técnica de reconstrução facial forense à importante descoberta arqueológica do húngaro Mihály Bányai, de seu País de origem.

E assim todos, brasileiros e húngaros, terão um contato mais íntimo com a história, terão a possibilidade de conhecer a face de uma mulher jovem de 900 anos atrás, descendente direta dos primeiros habitantes húngaros do território da Hungria atual. ”A reconstrução facial na arqueologia é uma oportunidade de colocar rosto a um crânio, de modo a humanizá-lo e deixá-lo mais empático ao grande público. É uma forma de dar uma identidade visual a um trabalho desenvolvido por técnicos que durante anos vêm construindo um conhecimento importante, que na prática é bastante usado na criminalística e por que não dizer, na computação gráfica para as ciências da saúde. A mesma base usada para reconstruir uma face é aplicada no planejamento cirúrgico digital”, explica o especialista Cícero Moraes.

”O trabalho do Cícero Moraes é um fascinante encontro entre uma disciplina tradicional e uma moderna que também representa uma tecnologia de ponta. Um achado arqueológico húngaro forneceu a base desta reconstrução facial, que por um lado leva a história húngara para mais perto dos brasileiros e, por outro, contribui para a melhor compreensão da época dos descendentes diretos dos primeiros húngaros do atual território do nosso país”, reforça Szilárd Teleki, o Cônsul-Geral Consulado-Geral da Hungria em São Paulo.

A importância da técnica de reconstrução facial

A face da húngara de aproximadamente 900 anos será apresentada no dia 15 de fevereiro durante a palestra “Reconstruindo Faces e Vidas com a Computação Gráfica 3D”, proferida por Moraes, no Palco Feel the Future, às 11h00. A atividade é parte da Campus Party, o maior e mais importante evento de tecnologia realizado no país.

Uma série de 145 fotos foi enviada e digitalizada em 3D com o auxílio de um software desenvolvido pelo próprio Moraes. Assim que o crânio foi adquirido, o artista passou às outras fases do processo que consistiram na colocação de músculos principais, escultura digital, utilizando como base a média da espessura de pele da população, e por fim foi feita a pigmentação do rosto e colocação de cabelos e indumentária.

As técnicas de reconstrução facial podem ser aplicadas na documentação tridimensional de patrimônio histórico e arqueológico. ”Quando desenvolvemos projetos como esses, onde o crânio foi digitalizado a partir de fotos, por exemplo, nós informamos aos leitores sobre como tudo aconteceu e mostramos como eles podem fazer a sua parte para o mantimento da memória. Qualquer indivíduo munido de um celular pode fazer uma sequência de fotos de um objeto e, se tudo for efetuado dentro de um protocolo, o mesmo poderá ser reconstruído em 3D. Veja o caso do Museu Histórico Nacional, se muitas pessoas tivessem aplicado à técnica de fotogrametria em muitas das peças expostas, poderíamos talvez, ao menos ter documentado em 3D parte considerável delas e “trazê-las de volta à vida” com a impressão 3D”, explica o especialista.

Crânio Húngaro na Campus Party do Brasil

Segundo Balázs József, o Cônsul Cultural e de Educação da Hungria em São Paulo, ”o público brasileiro que for prestigiar a mostra da reconstrução facial ficará maravilhado com os resultados e instigado a conhecer mais detalhes da nossa história milenar. Este tipo de trabalho é uma raridade em nível mundial, e considero sensacional que seja um especialista brasileiro a inaugurar esta nova linha de pesquisa arqueológica para a Hungria”.

Na fase inicial de grandes empreendimentos (construção de estradas ou de fábricas, por exemplo) na maioria dos países europeus, por regra geral realizam-se escavações arqueológicas. Na Hungria instituições estatais (o Museu Nacional da Hungria, por exemplo) ou museus municipais tem o direito de conduzir estes trabalhos. Na França estas atividades são centralizadas e realizadas por instituições do Governo, no entanto na Áustria ou na Alemanha as escavações são realizadas por empresas privadas.

A Campus Party é um dos maiores encontros de tecnologia nas temáticas que envolvem IoT, blockchain, cultura maker, educação e empreendedorismo. O evento conta hoje com mais de 550 mil campuseiros cadastrados em todo mundo, e já produziu edições em países como Espanha, Holanda, México, Argentina, Alemanha, Reino Unido, Panamá, El Salvador, Costa Rica, Colômbia e Equador. O evento está presente no Brasil há dez anos, e neste ano conta com o apoio da Embaixada da Hungria em Brasília e do Consulado-Geral da Hungria em São Paulo para essa apresentação.

**Sobre Cícero Moraes, o 3D Designer

Cícero Moraes é um 3D designer brasileiro especializado em reconstrução facial forense, projeto e confecção de próteses faciais humanas, próteses veterinárias, planejamento de cirurgias faciais, reconstrução de cenas de crimes, recuperação digital de patrimônio arqueológico e o desenvolvimento de add-ons em Python para o Blender nas áreas de cirurgia ortognática, ortodontia e rinoplastia. Por suas contribuições recebeu diversas honrarias dentre elas: a Comenda Colonizador Enio Pipino (2014), Título de Cidadão Mato-Grossense (2016), a Medalha Inca Garcilaso de la Vega (2017) e o reconhecimento do Ministério da Cultura da República Tcheca pelos serviços prestados à história do país (2018).

**Sobre as missões diplomáticas da Hungria no Brasil

A Embaixada da Hungria, localizada em Brasília e o Consulado-Geral em São Paulo, atuam na área do desenvolvimento das relações entre os dois países. Com sua política chamada “Abertura para o Sul”, a Hungria presta mais atenção do que antes nesta importante região da América. Há oito Cônsules Honorários da Hungria em várias cidades do Brasil, além de existir um Curso da Língua e Cultura Húngaras na Universidade de São Paulo (USP) e um Leitorado Húngaro na Universidade Estadual do Ceará. Foram realizados, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), fóruns de negócios para estreitar relações comerciais entre empresas dos dois países. E, como incentivo à cultura, o programa de música clássica “Prelúdio” da TV Cultura, em parceria com a Embaixada da Hungria, oferece ao vencedor, desde 2014, uma bolsa de estudos de até três anos para a Academia de Música Franz Liszt, de Budapeste. No dia 23 de outubro comemora-se a Revolução Húngara de 1956. Em homenagem ao Dia Nacional da Hungria, Geraldo Alckmin, ex-governador do Estado de São Paulo, decretou o nome de “Comunidade Húngara” a um importante viaduto na capital pelo qual passam dois milhões de paulistanos por dia.


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