Estudantes do primeiro ano de medicina têm 26% de chances de desenvolver depressão
Estudantes do primeiro ano de medicina têm 26% de chances de desenvolver depressão
Pesquisa revela que tristeza não está entre os principais sintomas da doença nessa parte da população
Atualmente, a depressão é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) o quinto maior problema de saúde do mundo e deve se tornar a doença mais comum do mundo nos próximos 20 anos, além de ser considerada a principal causa de incapacitação mundial. Pensando nisso, Isabela Gil, estudante do 12º período do curso de Medicina da Universidade Positivo, resolveu fazer um estudo sobre o estado de saúde mental de estudantes de Medicina, uma vez que há uma estimativa de que mais da metade dos alunos que ingressam no ensino universitário enfrentam dificuldades neste período – e esse pode ser o motivo pelo qual há um aumento nos níveis de psicopatologias nessa parcela da população.
O estudo, que utilizou o Inventário de Depressão de Beck para entrevistar cem estudantes do primeiro ano de Medicina, observou diferentes níveis de depressão, concluindo que 19% deles apresentaram depressão leve, 5% revelaram depressão moderada e 2% sinalizaram depressão grave. Entre os sintomas depressivos, foi encontrada incidência de 43% de sentimento de fracasso e de culpa, 72% com auto acusação e fatigabilidade, 52% com insônia, e 51% com irritabilidade e mudança da imagem corporal. E, contradizendo o rótulo de quadro depressivo popular, 76% deles não apresentam sinais de tristeza.
Para o orientador pedagógico do Curso Positivo, Ivo Carraro, são inúmeros os fatores que levam os estudantes ao quadro depressivo. “A primeira questão a ser considerada é verificar se seria realmente o curso de Medicina que o estudante tinha como profissão idealizada ou se ele começou por status, influência familiar, influência social, etc. Porque ele pode chegar lá e ver que não é aquilo que esperava”, explica. Além disso, o orientador lembra que a exigência intelectual em um ambiente de universidade é bem diferente do que a que o estudante está acostumado no Ensino Médio e é necessária preparação para a mudança de rotina. “O aluno está diante de um grande obstáculo, e ele não está preparado psiquicamente para dar conta de uma realidade nova na vida dele. Porque quando ele vai para o Ensino Superior é outra realidade, ele precisa ser mais responsável e mais autônomo, por isso é necessária uma preparação prévia”, explica.
Para preparar o estudante para a vida acadêmica, Carraro expõe que é preciso mostrar que a vida é um desafio atrás do outro e que eles podem ser vencidos. “Bons pais, boas mães, bons professores são aqueles que mostram aos estudantes que eles têm que vencer desafios e precisam acreditar que o mundo é deles e eles podem construir o mundo para eles. Um mundo que vai exigir muita persistência e vai exigir muito deles, mas um mundo criado no presente, sem medo do futuro”, orienta.
Como auxiliar os estudantes na graduação
Segundo a professora de Psiquiatria da Universidade Positivo, Raquel Heep, a universidade também deve se preparar para oferecer todo o suporte que o aluno precisa nessa nova etapa da vida. “Temos feito um trabalho interdisciplinar com a Psicologia, que tem trazido muito crescimento, disponibilizando atendimento de terapia individual, além de termos o Núcleo de Atenção à Crise que, junto com o Serviço de Informação e Apoio ao Estudante, identifica situações de emergência e oferece psicoterapia, conversa com família, e monitora os alunos com sofrimento”, expõe.
Além disso, a especialista indica que a participação dos professores é fundamental, uma vez que eles têm um relacionamento mais próximo dos alunos. “Temos feito uma sensibilização junto aos professores, porque muitas vezes algum aluno é muito próximo de algum professor e ele vai se sentir confortável para se abrir com ele. Então, esse professor nos leva o problema – claro que isso dentro de uma ética, dentro de um sigilo, para que a gente ofereça caminhos de tratamento, alternativas – para que esse aluno possa ser adequadamente tratado”, conta a psiquiatra.