“Vento Endiabrado”: o romance que une gerações e questiona a relação entre progresso e preservação
Jovens Leitores :
Em tempo de férias, leve um ótimo livro para acompanha-lo em sua viagem para a praia e descubra muito mais coisas que o céu, o sol e o mar. Conheça “Vento Endiabrado” , de Regina Helena de Paiva Ramos.
Texto : Dema de Francisco
“Vento Endiabrado”: o romance que une gerações e questiona a relação entre progresso e preservação
Prestes a completar 94 anos, Regina Helena de Paiva Ramos é um verdadeiro exemplo de vitalidade e relevância literária. Jornalista e escritora de talento incontestável, ela continua a produzir obras que não apenas emocionam, mas também inspiram reflexões profundas sobre o mundo em que vivemos. Seu romance “Vento Endiabrado” é uma prova irrefutável disso: um livro que transcende barreiras de idade e tempo, conectando-se especialmente aos jovens leitores, que têm aqui a oportunidade de mergulhar na riqueza da cultura brasileira e nos desafios que a preservação ambiental enfrenta em tempos de mudanças avassaladoras.
Uma história que sopra como o vento: forte, urgente e arrebatadora
Ambientado no litoral norte paulista, “Vento Endiabrado” é muito mais do que uma simples história de amor. A trama, que percorre quatro décadas, explora as transformações de uma praia e seus habitantes, tendo como pano de fundo a construção da rodovia Rio-Santos, que modifica para sempre o ambiente natural e a vida comunitária do local.
No centro da narrativa, encontramos o amor proibido entre Venâncio, um jovem caiçara, e Veridiana, uma mulher madura, escultora renomada que escolheu aquele pedaço de paraíso como seu refúgio. Essa relação, que desafia barreiras sociais e etárias, não é apenas um romance, mas uma metáfora para a ligação visceral que os seres humanos podem (e devem) ter com a natureza. A praia, como palco da história, é um personagem à parte, viva e pulsante, afetada tanto pelo amor quanto pela devastação trazida pelo progresso desenfreado.
O meio ambiente como personagem e alerta
O título, “Vento Endiabrado”, carrega consigo uma poderosa simbologia. Não é apenas o vento literal que varre o litoral, mas uma força destruidora, representando as mudanças irreversíveis causadas pelo homem à natureza. O romance é, ao mesmo tempo, uma ode à beleza do litoral brasileiro e um grito de alerta sobre as consequências da urbanização e da exploração ambiental desordenada e sem limites
É o vento que sopra, que transforma e transmuta tudo o que estava organizado pela natureza e revela o caos da passagem humana por ambientes intocados, como corações desabituados à grandes mudanças e que de uma hora para outra, são sacudidos por solavancos existenciais sem prévio aviso. .
A autora aborda com sensibilidade a perda da paisagem natural e o impacto desse “vento” na vida das pessoas. A construção da rodovia Rio-Santos, elemento central da história, exemplifica o dilema universal entre o desenvolvimento e a preservação, um tema que a qualquer tempo, será sempre extremamente atual, especialmente para as novas gerações que começam a tomar consciência ambiental ou que terão que aprender a viver nesse ambiente destruído pela presença humana.
Personagens que ecoam a alma brasileira
Regina Helena, uma jornalista e dramaturga habituada a tecer com maestria as histórias reais ou fictícias em mais de sessenta anos de carreira demonstra o seu afiadíssimo talento singular ao
construir personagens profundamente humanos e marcantes. Venâncio e Veridiana são figuras que carregam não só a complexidade de suas histórias pessoais, mas também a tensão entre tradição e modernidade.
Outros personagens enriquecem a narrativa com suas peculiaridades: Carolina, uma mulher livre e destemida que simboliza a quebra de padrões; Dona Quicas, a “rádio ambulante” da vila, cuja linguagem caiçara dá um tom de autenticidade ao texto; e Kurt, o alemão dono do hotel, cuja música encanta e cria pontes culturais. Cada um deles reflete aspectos do Brasil profundo, repleto de diversidade e humanidade.
A linguagem que conecta gerações
Um dos grandes triunfos de “Vento Endiabrado” é a linguagem de Regina Helena. Com uma escrita fluida e acessível, ela consegue capturar o coração do público
jovem, sem nunca sacrificar a sofisticação que encanta os leitores mais experientes. Ao trazer para o texto expressões caiçaras, que traduzem o cotidiano de um grupo de pessoas, habitantes de praias outrora quase desertas, a autora não apenas autentica sua narrativa, mas também preserva a riqueza cultural do litoral paulista e demonstra sua preocupação com esse “dialeto caiçara”, ameaçado de extinção pela morte dos mais velhos, que embora tenham repassado as antigas expressões dialéticas de seus grupos aos mais jovens, percebem que essa linguagem aos poucos vai minguando aqui e acolá, correndo o risco desaparecerem com a voracidade do tempo e pela ausência da preservação cultural da tradição oral. .
Para os jovens leitores, o romance oferece uma extraordinária oportunidade de aprender sobre a história e a cultura brasileiras de maneira envolvente. Ao mesmo tempo, desperta o interesse por questões ambientais, mostrando como o passado ainda dialoga com os desafios do presente.
Regina Helena: um pilar da literatura brasileira
Regina Helena de Paiva Ramos não é apenas uma autora; é um verdadeiro pilar da nossa literatura e do jornalismo cultural. Sua capacidade de produzir textos primorosos aos 93 anos é uma inspiração para todos e para tantos, independente de suas faixas etárias. Sua obra transcende gêneros e gerações, e “Vento Endiabrado” é uma demonstração clara de que gr
andes histórias têm o poder de unir diferentes públicos em torno de questões universais.
Por que os jovens devem ler “Vento Endiabrado”?
No Brasil destes tempos rasos para a cultura brasileira , onde o consum
o de conteúdos rápidos muitas vezes supera a profundidade das obras literárias, Regina Helena nos lembra da importância de desacelerar e mergulhar em narrativas que nos transformam. “Vento Endiabrado” não é apenas um romance; é um convite para refletirmos sobre nossa relação com a natureza, sobre o impacto de nossas escolhas no mundo à nossa volta e sobre as histórias que nos moldam como indivíduos e como sociedade.
Seja pela força de sua narrativa, pelos personagens inesquecíveis ou pelo alerta ambiental que ressoa tão urgentemente, “Vento Endiabrado” merece um lugar de destaque na estante – e no coração – de todos os leitores. Jovens, em especial, encontrarão na obra de Regina Helena uma fonte de aprendizado, inspiração e conexão com as raízes culturais brasileiras.
Em um mundo que tanto carece de histórias autênticas e reflexões profundas, Regina Helena de Paiva Ramos prova que a literatura brasileira em especial, ainda é uma das formas mais poderosas de transformar vidas.
Torcemos para que “Vento Endiabrado” possa ganhar em breve uma vers
ão para os palcos e sobretudo para o cinema , pois fôlego para isso, não lhe falta e com certeza cativará e conquistará novos públicos, ávidos por conhecerem esse país melhor, através da rica produção literária de autores inspirados como Regina Helena que nos comove da primeira à ultima página de seu novo romance, que aliás, poderia muito bem fazer parte do acervo do Programa Nacional do Livro e do Material Didático – PNDL onde com certeza produzirá bons frutos nos corações de jovens leitores.
Lançado no final de 2023, o livro vem fazendo crescente sucesso entre todos os que tiveram o privilégio de desfrutar de sua leitura e está disponível em plataformas como Amazon Brasil, e
recomendamos fortemente que, além de lê-la, os leitores busquem entrevistas com a autora, como sua participação no programa Entrelinhas, no Youtube onde ela compartilha detalhes de seu processo criativo e sua paixão pela escrita.
Fotos: Redes Sociais.