Artistas envolvidos em polêmicas recentes discutem censura e liberdade de expressão em espetáculo no TUSP
Artistas envolvidos em polêmicas recentes discutem censura e liberdade de expressão em espetáculo no TUSP
Em 2017, quatro artistas – Elisabete Finger, Maikon K, Renata Carvalho e Wagner Schwartz – foram protagonistas de acalorados debates a respeito da censura e da liberdade de expressão. A partir destas experiências e dos ataques sofridos, os artistas se juntaram e deram origem a Domínio público, para refletir com o público sobre os limites da arte. O espetáculo toma como ponto de partida um dos ícones da história da arte, e revela como uma obra pode ser utilizada em diferentes narrativas ao longo do tempo, ensejando diferentes reações da sociedade.
As experiências
Wagner, em sua performance La Bête, oferece seu corpo nu para ser dobrado e desdobrado pelo público — revisitando a proposta das esculturas Bichos, de Lygia Clark. Em sua apresentação no Museu de Arte Moderna de São Paulo o performer foi tocado por uma criança, acompanhada por sua mãe. Um recorte em vídeo deste momento foi manipulado por grupos conservadores e “viralizado” nas redes sociais, atribuindo ao artista o título de “pedófilo”.
Elisabete, coreógrafa e mãe da criança que participou de La Bête, sofreu uma avalanche de acusações e ameaças, em meio a inquéritos policiais e interrogatórios políticos, que colocaram em questão o papel da mulher, da mãe, do público e da artista no Brasil de hoje.
Maikon, em sua performance DNA de DAN, fica nu e imóvel dentro de uma bolha transparente. Na apresentação em frente ao Museu Nacional da República, em Brasília, teve seu cenário danificado e foi detido pela polícia militar sob a acusação de ato obsceno.
Renata, atriz, teve sua peça O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu censurada, e foi impedida de se apresentar por ser travesti e interpretar Jesus Cristo.
Os artistas
Formado em Letras, Wagner Schwartz é autor de nove criações desde 2003, e recebeu o prêmio APCA 2012 de “Melhor projeto artístico” por Piranha. Foi ainda selecionado pelo programa Rumos Itaú Cultural Dança em 2000, 2003, 2009 e 2014. Foi curador da 10ª Bienal Sesc de Dança, colaborador internacional do Festival Contemporâneo de Dança, em São Paulo, e artista residente do Festival de Teatro de Curitiba. Trabalhou como intérprete para o coreógrafo Rachid Ouramdane, para o diretor de teatro Yves-Noël Genod e para o artista Pierre Droulers. Recentemente colaborou com os cineastas Judith Cahen e Masayasu Eguchi. Em 2018, seu primeiro livro de ficção, Nunca juntos mas ao mesmo tempo, é publicado pela Editora Nós. Vive e trabalha em São Paulo e Paris
Elisabete Finger é coreógrafa e performer. Foi artista residente na Casa Hoffmann (Curitiba), fez parte da formação Essais no Centre National de Danse Contemporaine d’Angers (França), e do Programa SODA – Solo/Dance/Authorship, mestrado em dança pela HZT/UdK (Berlim – Alemanha). Co-fundadora e integrante do Couve-Flor Minicomunidade Artística Mundial, tem apresentado seu trabalho em diferentes contextos (dança, performance, artes visuais). Suas peças mais recentes são Montagem, Nhaka e Monstra, uma coreografia-colagem para pessoas e plantas (parceria com a artista visual Manuela Eichner).
Formado em Ciências Sociais, Maikon K transita entre a performance, a dança e o teatro. Há 15 anos pesquisa meios de alterar a consciência através de práticas corporais e ritos. O foco de sua pesquisa é o corpo e sua capacidade de alterar percepções. Sua obra tem influência de práticas xamânicas: nela o performer constrói diversas realidades através de técnicas específicas, por meio de canção, som não verbal, dança, signos visuais e atividades ritualizadas. Interessam-lhe os estados da consciência, a relação sagrado-profano, sexualidade, intensidades, o grotesco, provocar rituais, testar sensibilidades. Entre suas criações estão: Guilhotina – musical xamânico-terrorista para uma sala de aula; Corpo ancestral; DNA de DAN; Terrário – dança privê num portal interdimensional; O ânus solar.
Atriz e diretora de teatro há 22 anos, Renata Carvalho é fundadora do MONART (Movimento Nacional de Artistas Trans) criando o manifesto Representatividade trans e do Coletivo T (primeiro coletivo artístico formado integralmente por artistas trans em SP). Em 2012, estreia seu primeiro monólogo Dentro de mim mora outra, onde contava sua vida. Está em cartaz também com o monólogo O evangelho segundo Jesus, Rainha do céu.
Ficha técnica
Criação, texto e performance: Elisabete Finger, Maikon K, Renata Carvalho, Wagner Schwartz. Colaboração artística: Ana Teixeira. Figurino: Karlla Girotto. Assistente de figurino: Flávia Lobo. Maquiagem: Felipe Ramirez. Iluminação: Diego Gonçalves. Direção técnica: Juliana Vieira. Produção: Corpo Rastreado / Gabi Gonçalves. Difusão internacional: Something Great / Rui Silveira. Fotos: Humberto Araújo. Apoio: Casa Líquida, Egrey, Fernanda Yamamoto. Coprodução: Festival de Teatro de Curitiba. Agradecimentos: Alba Roque e Julia Feldens.
Texto: Sandra Lima | Foto: Humberto Araújo (Na foto, Elisabete Finger)
Serviço
Domínio Público
Onde Centro Universitário Maria Antonia – Sala Multiuso
Rua Maria Antonia, 258 – Vila Buarque – São Paulo, SP (próximo às estações Higienópolis e Santa Cecília do metrô)
Quando | De 22 a 24 de fevereiro | sexta e sábado, 21 horas, e domingo às 20 horas
Classificação | Livre
Duração | 55 minutos
Quanto | R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada) – Ingressos – 1 hora antes do espetáculo
Lotação | 72 lugares
Informações | (11) 3123-5222