Crônica da Semana: O Moço mais bonito do Mundo
Crônica da Semana
O Moço mais Bonito do Mundo
A lenda de Narciso atravessou os séculos a demonstrar que a beleza é uma dádiva que pode também se transformar em fardo pesado demais para ser suportado pelos mortais. Milhares de pessoas galgaram os degraus da glória tendo como único trunfo apenas uma beleza capaz de transpor todas as barreiras e abrir lhes todas as portas. Outras sucumbiram no trajeto, levando como um peso amarrado aos pés, a mesma beleza que havia premiado seus rostos e corpos.
Nesse caminho, a sabedoria é a mais valiosa ferramenta para quem teve a sorte de ser belo. Conheço algumas pessoas especialmente bonitas que não se deixaram vencer pelos próprios encantos e atravessam a vida de forma sábia.
Nesse dia dos pais, com a devida permissão, faço esta crônica em homenagem a um amigo-irmão muito querido e, ao final, vocês entenderão minhas razões.
Gustavo Cabral Narciso, fazendo jus ao nome, foi um adolescente que como tantos outros, sentia-se incomodado com o próprio corpo, por desconhecer que no lado oposto do espelho que o mostrava como um patinho feio, existia um cisne pronto para alçar voo, até chegar ao momento mágico da “virada de chave”. Despertou! Começou de forma tímida uma carreira de modelo, sem esperar a reviravolta que isso traria para sua vida. Trancou a matrícula na faculdade de direito. Ganhou as passarelas locais e em seguida, as internacionais Tornou se um cidadão do mundo . Viajou por todos os cantos do planeta e um dia, por obra e graça do destino foi eleito Mister Brasil e na sequência, o primeiro brasileiro a se tornar Mister Mundo. Sobreveio uma avalanche vertiginosa de capas de revistas, agendas lotadas de compromissos, eventos de toda ordem, aparições em televisão, convites para realities e novelas, Sua casa passou a ser o “mundo”. Nessas idas e vindas, perdeu o pai, José Carlos, de quem não pode se despedir por estar na China a trabalho. Foi um grande e penoso impacto. Na volta ao Brasil, decidiu retomar as atividades acadêmicas justamente em memória daquele que sempre o havia incentivado a seguir a carreira jurídica. A agenda continuava cheia e, tempos depois, também por estar em trabalho, não viu o filho nascer. Teve a sensibilidade de saber que era chegada a hora de parar. Por três anos, dias e noites foram consumidos de forma integral entre livros e gabaritos. Estava pronto para uma nova carreira, desta vez, bem longe dos holofotes, Tornou-se Defensor Público e passou a fazer da profissão um sacerdócio. Mas por que esta crônica no Dia dos Pais? Indagam-me os senhores e eu respondo: Porque Gustavo trabalha no atendimento de pais e filhos marginalizados, pobres, sem recursos para custear advogados nas mais diversas situações, todos carentes e em vulnerabilidade social que caminham contra a vontade, à margem da sociedade e principalmente de uma “justiça” que normalmente não enxerga, não ouve e desconhece a existência desses cidadãos. Quando Gustavo se debruça sobre apenas um, das centenas de processos que chegam às suas mãos, ele sempre reconhece ali, uma família, que procura seu socorro como o único e ultimo elo de uma oportunidade salvadora. São necessidades de todas as origens e a cada uma delas, ele tem o cuidado e a sensibilidade de “ver” uma pessoa, um semelhante que merece e precisa sentir-se visto e sobretudo, acolhido! Quando um pai ou uma mãe, chega em seu gabinete à procura de ajuda, depois de peregrinar pelos meandros intermináveis dos corredores da justiça, eles encontram não apenas um homem naturalmente bonito e sereno, mas alguém que lhes olha nos olhos como a dar-lhes as boas vindas que a vida lhes negou o tempo inteiro. Ser Defensor Público é, por opção, mais que pelo dever do ofício, chamar para si a defesa dos excluídos; Lutar para que eles tenham o direito a uma forma digna de defesa, colocar voluntariamente as mãos nas “latas do lixo” da sociedade e retirar dali vidas e direitos roubados, usurpados, violentados ou esquecidos. É restaurar famílias. É unir-se a um pai desconhecido na defesa do filho problemático, é reativar a chama da alegria e da esperança no coração de uma mãe já machucada. É espalhar luz e vida em cada petição jurídica. Nesse dia dos pais, na imensidão do infinito onde repousa, José Carlos deve estar orgulhoso de saber que o seu rebento, seguiu o ensinamento direitinho e não bastasse ter sido um dia, o moço mais bonito do mundo, tornou-se também um aguerrido defensor dos direitos de pais e filhos. Gustavo Gianetti trocou sem temores ou remorsos todas as passarelas do mundo para fazer de seu ofício, uma caminhada em favor da igualdade da justiça. Essa é a sabedoria capaz de distinguir de forma inigualável, as pessoas especiais que passam por este planeta e dedicam suas vidas ao bem estar “do outro”.
Segundo o Talmud, o livro sagrado das tradições judaicas, “quem salva uma vida, salva o mundo todo”. Gustavo Gianetti está fazendo sua parte de forma impecável!
Texto: Dema de Francisco