Dudu Braga, uma existência luminosa
Às vezes, para entender a vida é preciso retroceder ao tempo detendo-se no ponto de partida para compreender a grandeza de uma existência. Quando esse menino nasceu em dezembro de 1968 seu pai já era um ídolo nacional. Ao chegar neste planeta foi recebido com amor incalculável pelos jovens pais, pela família e por uma legião sempre crescente de fãs. A alegria da chegada foi momentaneamente embaçada pela preocupação da descoberta ainda no hospital de um glaucoma congênito em ambos os olhos; Começava a nascer ali a história de uma pessoa que nunca se deixou esmorecer pelas dificuldades físicas que a vida lhe impôs. Com apoio e amor incondicional dos pais, enfrentou lutas e batalhas sem fim e se não venceu todas, nunca se intimidou e jamais se deixou abater por elas. Sabiamente os pais não o cercaram numa redoma, nem o superprotegeram. Ensinaram-no a contornar e superar as dificuldades e a voar para o mundo, longe do ninho, e ele, bom aluno, aprendeu todas as lições e colocou-as em prática todos os dias nesses 52 anos que se encerram hoje.
Construiu sua vida, formou uma bela família, encontrou o seu caminho profissional, e com a raríssima sensibilidade daqueles que sabem que a vida é apenas uma neblina, fez sua jornada ser a mais leve possível, com afabilidade, generosidade, alegria, gentileza e resiliência. Foi um ser de luz e despojamento. Encontrou na simplicidade e na música um barco aconchegante que tornou sua viagem nesta terra uma aventura de amor.
Seus olhos tinham dificuldade para ver, mas sua alma era pura luz e poesia. E ele foi brilhante nessa trajetória de espalhar luminosidade sobre as sombras do caminho.
Roberto Carlos, seu pai, certamente está dilacerado pela perda e talvez mais do que nunca, hoje esteja solfejando dolorosamente a letra de sua bela canção “As flores do jardim da Nossa Casa”, composta por ele num quarto de hotel em Amsterdã naqueles longínquos dias em que aguardava ansioso e preocupado o resultado da cirurgia ocular ao que o pequeno filho havia sido submetido. Naqueles dias de aflição e esperança, a música foi criada especialmente em homenagem ao menino e à Cleonice Rossi, sua mãe.
Que seja esta a canção de ninar que ele em sua dor, possa continuar oferecendo ao filho digno de orgulho, que cumpriu sua missão com a certeza de que a vida é apenas uma suave caminhada rumo ao infinito. Nossa casa não é aqui… Estamos todos viajando para a grande morada e quando compreendemos a dimensão de tudo isso, entendemos também a grandeza ou a pequenez de nossa existência.
Roberto Carlos Braga II como se dizia naqueles dias de 1969 ou Dudu Braga como se disse durante a vida, fechou com chave de ouro a sua caminhada e a sua existência. Certamente está em paz!
A Roberto Carlos que sempre praticou com retidão e amor o seu papel de pai presente e amoroso, resta o conforto de saber que sua enorme legião de fãs e amigos o abraça com respeito e afeto.
Dema de Francisco é dramaturgo e jornalista ,editor da Revista Ponto Jovem. A crônica acima foi escrita em homenagem à memória do musico e empresário Dudu Braga, filho do cantor Roberto Carlos que nos deixou em 08.09.2021.