Brasil perdeu 10 anos de progresso em Índice de Capital Humano

6 de julho de 2022 Atualidades
Brasil perdeu 10 anos de progresso em Índice de Capital Humano

Por causa da pandemia, Brasil perdeu 10 anos de progresso em Índice de Capital Humano

Uma criança brasileira nascida em 2021 perderá, em média, 46% do seu potencial total devido às condições de saúde e educação, agravadas pela pandemia de COVID-19. Já para as nascidas em 2019, esse percentual era de 40%. Em dois anos, por causa da crise sanitária, econômica e educacional, o Brasil perdeu o equivalente a uma década de progresso no Índice de Capital Humano. Os dados são do “Relatório de Capital Humano Brasileiro – Investindo nas Pessoas, lançado nesta segunda-feira (4) pelo Banco Mundial.

O relatório propõe o Índice de Capital Humano (ICH) para estimar a perda ou acúmulo de habilidades pelos indivíduos até os 18 anos. Tal indicador considera as condições de educação e saúde desfrutadas pelas crianças brasileiras durante períodos críticos de formação de habilidades. Um alto Índice de Capital Humano hoje é uma promessa de alta produtividade da futura geração de trabalhadores.

“Em 2019, quando o ICH do Brasil era de 60%, já se observavam diferenças regionais e desigualdades locais na acumulação de capital humano. Por isso, o relatório fala em ‘muitos Brasis’. As crianças nascidas naquele ano em municípios do norte e nordeste, por exemplo, desenvolveriam aproximadamente metade de todo o seu talento potencial, ou 10 pontos percentuais (0,1 ponto do ICH) a menos que a média de uma criança do sudeste”, afirma um dos autores do relatório, Ildo Lautharte.

Nas últimas décadas, o nordeste registrou o maior crescimento do capital humano no país, mas partindo de níveis relativamente mais baixos. O crescimento mais notável do ICH, no entanto, concentrou-se nos estados de Pernambuco (aumento de 25,6%), Alagoas (aumento de 20,9%) e Ceará (aumento de 20,9%). Poucas áreas do sul e sudeste apresentaram crescimentos semelhantes. A região norte foi a que teve o pior desempenho, e os municípios localizados no Amapá, Roraima e Tocantins destacam-se com os menores ganhos de ICH entre 2007 e 2019. As crianças da região norte não estão apenas atrás, elas também acumularam capital humano em um ritmo mais lento que crianças em outras regiões do Brasil.

Outra constatação do relatório é de que o Índice de Capital Humano das pessoas brancas aumentou em um ritmo mais acelerado do que qualquer outro grupo racial no Brasil. O aumento médio do ICH das pessoas brancas entre 2007 e 2019 foi de 14,6%. Já os ganhos entre afrodescendentes e indígenas, por outro lado, foram bem menos promissores. O ICH entre afrodescendentes aumentou 10,2% e o de indígenas permaneceu praticamente inalterado, com uma taxa de crescimento de apenas 0,97% no mesmo período.

“Se o ICH mantivesse a trajetória de crescimento observada entre 2007 e 2019, o Brasil levaria aproximadamente 60 anos para atingir os patamares de capital humano alcançados pelos países desenvolvidos. Com as perdas trazidas pela pandemia, há ainda menos tempo a perder”, diz o coautor do relatório e também coordenador do programa de Desenvolvimento Humano do Banco Mundial no Brasil, Pablo Acosta.

Recomendações – O caminho para a recuperação será longo, segundo o relatório. Considerando-se a taxa de crescimento antes da pandemia, o ICH do Brasil levaria de 10 a 13 anos para retornar ao patamar de 2019. Ou seja, o Brasil chegaria novamente ao ICH de 2019 somente em 2035.

O estudo traz diversas recomendações para que o Brasil acelere a recuperação do capital humano:

  • A recuperação e aceleração sustentáveis exigem sistemas públicos resilientes. Os governos devem estar preparados para superar desafios inesperados ou enfrentar as próximas crises climáticas e de saúde pública.
  • Visto que os impactos da COVID-19 na formação de capital humano no Brasil se materializaram, em grande parte, na educação, a recuperação e aceleração do aprendizado devem ser prioridades nos próximos anos. Em primeiro lugar – e acima de tudo – todos os alunos devem voltar à escola.
  • Uma vez de volta à escola, os alunos precisam, efetivamente, reaprender. A recuperação e aceleração do aprendizado devem ser prioridade.
  • É essencial fortalecer a aprendizagem híbrida, ampliar a conectividade à internet, fornecer dispositivos computacionais para alunos vulneráveis e aprimorar as competências digitais.
  • O Sistema Único de Saúde (SUS) deve proteger crianças e adolescentes das consequências sanitárias e socioemocionais da pandemia.
  • Como as desigualdades preexistentes tendem a se agravar, o programa brasileiro de transferência condicionada de renda (anteriormente denominado Bolsa Família, agora Auxílio Brasil) deve ser fortalecido para apoiar grupos de pessoas mais afetadas pela pandemia de COVID-19.

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