Brasileira vence competição internacional de comunicação científica FameLab

9 de dezembro de 2020 Educação e Tecnologia
Brasileira vence competição internacional de comunicação científica FameLab

Brasileira vence competição internacional de comunicação científica FameLab

A médica veterinária Gabriela Ramos Leal foi campeã na categoria “voto popular”; ela é a primeira mulher a representar o País na fase internacional

Na última quinta-feira (26/11), a apresentação da Doutora em Clínica e Reprodução Animal Gabriela Ramos Leal, 34, sobre a “magia” da ciência na criopreservação de embriões conquistou pessoas de mais de 75 países: a médica veterinária foi escolhida como campeã internacional da competição de comunicação científica FameLab pelo voto da audiência. Com ela, se consagraram vencedores pela escolha dos jurados os pesquisadores Sauradeep Majumdari (Suíça), Rebecca Ellis (Reino Unido) e Ahmed Maani (Catar).

Para o Brasil, que entrou na competição em 2016 e desde então não havia conseguido se classificar para a final internacional, a vitória da jovem é um marco ainda maior: Gabriela foi a primeira mulher a representar o País internacionalmente. Sua conquista é carregada de inspiração e representatividade para as mulheres cientistas, especialmente para as mulheres negras, que ainda lutam para igualar as oportunidades na área.

“Eu só gostaria de dizer que o voto da audiência é a melhor resposta que eu poderia ter sobre o meu desempenho na competição”, disse a jovem pesquisadora logo após ser anunciada ao vivo pelo apresentador. “Quero agradecer todo mundo que votou por mim, todo mundo que se sentiu conectado com o tema. As pessoas realmente entenderam como a ciência pode afetar as suas vidas.”

Criada pelo Festival de Ciência de Cheltenham e realizada pelo British Council, a iniciativa busca capacitar jovens pesquisadores a apresentar um conceito científico de forma clara e carismática. Depois da fase de treinamentos, eles escolhem um tema que deve ser apresentado em apenas três minutos. A pesquisadora explica que buscou mostrar um lado da medicina veterinária pouco conhecido pela sociedade. “As pessoas pensam que se você não tem um pet, o médico veterinário não é necessário. E isso na verdade é uma necessidade de comunicação para que elas entendam qual é a importância da medicina veterinária num contexto de saúde pública”, afirma.

Na visão da pesquisadora, a pandemia ainda trouxe uma outra importância para o programa. “Sempre houve necessidade de uma comunicação científica melhor para combater as fake news que aparecem por aí. E a pandemia se tornou um momento propício para isso porque até quem não se interessa ou até mesmo não acredita em ciência está esperando o que os pesquisadores têm a dizer nos próximos meses.”

Uma questão de representatividade

No meio acadêmico, a jovem conta que não teve dificuldade de inserção, mas o ambiente abriu sua percepção para questões raciais. “Hoje inclusive eu faço parte de um coletivo de médicos-veterinários negros porque a gente percebe essa necessidade inclusive de representatividade. Por exemplo, eu não tive um professor preto na faculdade”, conta. De acordo com a plataforma Open Box da Ciência, iniciativa da organização Gênero e Número, as mulheres representam 46% das docentes de ensino superior, mas apenas 23% delas são pretas e pardas.

Com base em dados do CNPq 2015, o levantamento ainda observou que apenas 25% dos pesquisadores seniores A1 (nível mais elevado) eram mulheres. De acordo com a jovem, apesar de ainda ter um longo caminho pela frente, a representatividade feminina na ciência está aumentando. “Até mesmo por um problema de comunicação, as pessoas têm essa ideia de que o cientista é sempre um homem, de jaleco, geralmente mais velho e meio emburrado. Poder mostrar que a ciência tem todas as caras, todas as cores e todos os gêneros foi bem especial.”, conclui.

Sobre o FameLab

Criada em 2005 pelo Festival de Ciência de Cheltenham, a competição é realizada pelo British Council em 32 países com o objetivo de promover a aproximação entre cientistas e público em geral, por meio da contextualização e abordagem de temas científicos no dia a dia da sociedade, além de incentivar o desenvolvimento de competências em comunicação, em especial a habilidade oral.

No Brasil, a 4ª edição conta ainda com a parceria do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e da TV Cultura.

Além do FameLab, o British Council se consolida como fomentador da ciência no país por meio dos programas Universidades para o Mundo, Mulheres na Ciência e Newton Fund.


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