Niéde Guidon, nosso maior patrimônio humano na área da arqueologia deseja que os jovens preservem o Parque Nacional Serra da Capivara

28 de junho de 2022 Atualidades
Niéde Guidon, nosso maior patrimônio humano na área da arqueologia deseja que os jovens preservem o Parque Nacional Serra da Capivara

Por: Arlete Alcântara, exclusivo  para  a Revista Ponto Jovem.

A arqueóloga franco/brasileira, responsável pelo parque de mais de 130  mil hectares entre os municípios de Canto do Buriti, Coronel José Dias, São João do Piauí e São Raimundo Nonato, no Piauí, admite que a falta de recursos é a maior ameaça ao local

Entre as atrações do Parque estão os registros rupestres pré-históricos, pintados ou gravados sobre as paredes e os afloramentos rochosos.

Existem várias preciosidades registradas em desenhos nas pedras ou formações rochosas encravadas nas terras do Piauí e tudo isso ficou conhecido graças ao trabalho árduo da arqueóloga Niède Guidon, 89 anos. O Parque Nacional Serra da Capivara com seus Museu da Natureza e Museu do Homem Americano, podem ser visitados por gente do mundo todo, mas serão necessários muita vitalidade, dedicação, estudo, coragem e dinheiro para manter e preservar essas joias naturais, como fez doutora em toda sua vida.

É especialmente aos jovens que a professora franco/brasileira convida ao “sacrifício”. Niède insiste na formação dos jovens e lembra que o caminho já foi trilhado, mas há muito a fazer e preparar-se é o caminho fundamental. “Atualmente existem vários cursos de arqueologia. Até aqui perto, na Universidade Federal do Vale do São Francisco, em Petrolina – PE. Acontecem muitas pesquisas  arqueológicas em todo o Brasil”, sugere.

A história dela começou cedo, ainda muito jovem formou-se em História Natural, na Universidade de São Paulo (USP), em 1959. Sob sugestão do amigo jornalista Paulo Duarte, especializou-se em arqueologia. Seu destino estava traçado. 

Foi numa exposição de arte rupestre no Museu do Ipiranga, em 1963, onde trabalhava, que um visitante pediu para mostrar pra ela algumas fotos que possuía. “Olha, lá perto da minha cidade, no sul do Piauí, também tem esses desenhos de índios”. Niède ficou curiosa e decidiu visitar o local. 

Uma ponte e fuga da perseguição

Divulgação: A arqueóloga Niède Guidon dedicou toda sua vida à pesquisa, ao Parque e seus Museus

Sobre as fotos ela relatou depois. “Na verdade, aquilo era completamente diferente do resto!”, destacou. Em dezembro daquele ano, dirigiu sozinha de São Paulo ao Piauí para confirmar tudo, mas uma ponte sobre o Rio São Francisco havia caído e forçou a cientista a voltar pra casa.

Sempre muito dedicada e persistente, ela queria ir ao Piauí, mas novamente não pode fazer a visita que desejava. Pouco depois, teve que deixar o Brasil às pressas. Foi alertada por um amigo que militantes de movimentos políticos de esquerda, como ela, estavam na mira do regime militar e sua prisão era certa. Foi para a França usando passaporte francês (seu pai era francês e sua mãe brasileira). 

Ela voltou ao Brasil em 1970, trazida pelo governo, francês e aproveitou para, finalmente, visitar o Piauí e confirmar se as fotos mostradas eram reais. Foi uma surpresa maior ainda. O que a ela encontrou nos paredões piauienses eram criações complexas e muito elaboradas. “Contavam muito sobre o homem pré-histórico que vivia ali”, explica.

Novamente, com o apoio do Governo francês, e o financiamento do Banco Interamericano, ela conseguiu colocar em prática um projeto de viabilidade turística da região e com recursos de US$1,6 milhão, fundou o Parque Nacional Serra da Capivara, em 1979.

Briga Externa e Interna

Divulgação: Em 1970, Niède Guidon e um grupo de arqueólogos iniciaram as pesquisas na região com financiamento da França

Nada foi fácil. As descobertas da arqueóloga contradiziam os cientistas dos Estados Unidos. Os estudos dos colegas americanos definiam que os primeiros seres humanos a habitarem o continente tinham vindo, há 50 mil anos, da Rússia para os Estados Unidos, pelo estreito de Bering (é um canal marítimo localizado entre o continente asiático e o continente americano)

Mas as escavações de Niède encontraram vestígios ainda mais antigos: que o Homo Sapien deve ter vindo da África, há 100 mil anos, pelo Atlântico. Os cientistas dos EUA ainda insistem em não aceitar seus registros, mas a arqueóloga brasileira justifica seu trabalho. “A tese deles está muito velha. Depois dela, já foram descobertos novos vestígios no Brasil e na América do Sul, que são bem mais antigos”, ressalta. 

Se há uma briga externa, entre seus pares, a cientista ressalta que hoje a luta maior, é interna e ela é muito desgastante. Há falta de vontade política. Em 1986, Niède e outros pesquisadores criaram a FUMDHAM – Fundação Museu do Homem Americano, com o objetivo de cuidar do parque. 

Segundo dados da própria  FUMDHAM, é necessário investir nas cidades ao redor do Parque e em bons hotéis e restaurantes. Ter um acesso atraente é fundamental e especialmente ter cuidado com o aeroporto de São Raimundo Nonato, criado em 1993 e só inaugurado em 2015. Vale destacar que para quem opta por viajar de carro a estrada é boa, mas longa: são sete horas de trajeto desde Teresina.

Para bancar uma estrutura tão grande, são necessários recursos e essa é uma das preocupações de Niède. “A falta de dinheiro é nossa principal e constante ameaça”, lamenta.

Niède está doente (teve Zika e Chikungunya,) e se aposentou. Hoje ela é Diretora Emérita da Instituição. Mas, não consegue ficar distante do que ocorre ao seu lado e está sempre disposta a atender quem a procura, entre elas a nova Diretora Presidente, doutora Anne Pessis, os turistas, especialistas, moradores locais ou quem precisar de ajuda, tanto que tratou de morar atrás da FUMDHAM e do Museu do Homem Americano e facilitar a vida de todos.

Fundação e Museu do Homem Americano

O Museu revela em seu acervo a importância do patrimônio cultural deixado pelos povos pré-históricos na região.

Para garantir a preservação do patrimônio cultural do Parque Nacional Serra da Capivara foi criada a FUMDHAM – Fundação Museu do Homem Americano. A entidade realiza atividades científicas interdisciplinares, culturais e sociais.

Já o Museu do Homem Americano, que fica na sede da FUMDHAM, existe para divulgar a importância do patrimônio cultural deixado pelos povos pré-históricos na região. A exposição mostra os resultados de mais de quatro décadas de pesquisas realizadas na região do Parque. O local conta com exposição permanente e apresenta as  teorias de povoamento da América criadas a partir das descobertas feitas na região.

Visitantes do mundo todo podem conhecer ainda a história da escavação arqueológica do sítio do Boqueirão da Pedra Furada, que demonstrou a presença humana na região desde o período Pleistoceno. Lá são encontrados, ainda, instrumentos pré-históricos, esqueletos e urnas funerárias usadas pelos primeiros humanos a povoarem a região, há mais de 11 mil anos.

Visitação do Museu do Homem Americano

Horário:

De quarta a domingo, das 13:00 às 19:00 horas.

Fechamento da bilheteria às 18:00 horas.

Venda antecipada de ingressos somente na recepção do Museu do Homem Americano.

Ingressos limitados a 200 visitantes por dia.

Ingressos:

R$20,00 entrada inteira.

R$10,00 meia entrada, mediante apresentação da carteira de estudante.

Gratuito para pessoas acima de 60 anos.

Gratuito para estudantes de escolas públicas, nas terças e quartas-feiras, acompanhados do professor.

Museu da Natureza

O Museu da Natureza oferece ao visitante uma viagem multissensorial, que mostra a criação do universo e os impactos climáticos nas constantes transformações da fauna e da flora.

Outro grande atrativo é o Museu da Natureza, que foi inaugurado em 18 de dezembro de 2018, com seu visual tecnológico e atrativo ele conta a história da formação dos biomas, da fauna e da flora da região, por meio das mudanças climáticas, desde o surgimento do universo até o estágio atual.

Dentro do museu, há 12 salas dispostas em espiral onde o visitante poderá conhecer todo o processo histórico da natureza da região, do surgimento do universo, passando pela era do gelo, conhecer os fósseis de animais gigantes e a vegetação local.

Mas, atenção: o Museu está localizado no Município de Coronel José Dias, ao lado do Parque Nacional Serra da Capivara, mas fora da área de preservação, isso porque o Parque está dividido em quatro municípios piauienses: Brejo do Piauí, João CostaSão Raimundo Nonato e Coronel José Dias.

Visitação do Museu da Natureza

Horário:

De quarta a domingo, das 13:00 às 19:00 horas.

Fechamento da bilheteria às 18:00 horas.

Venda antecipada de ingressos somente na recepção do Museu da Natureza.

Ingressos limitados a 200 visitantes por dia.

Ingressos:

R$ 30,00 (inteira)

Será cobrada apenas meia entrada:

  • Grupos a partir de 10 pessoas;
  • Menores de 12 anos;
  • Maiores de 60 anos;
  • Estudantes;
  • Pessoas com deficiência;
  • Jovens de baixa renda, com idade entre 15 e 29 anos;
  • É obrigatória a apresentação da documentação que comprove o direito ao benefício, conforme legislação em vigor.

Educação Infantil: é necessária a presença de um professor responsável para cada 15 alunos.

Ensino Fundamental e Ensino Médio: é necessária a presença de um professor responsável para cada 25 alunos.

SERVIÇO: fumdham.org.br

COMO CHEGAR AO PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA:

De ônibus

De Teresina/PI – ônibus diário, três vezes ao dia, a partir do Terminal Rodoviário de Teresina.
Terminal Rodoviário Governador Lucídio Portella
Rodovia Gov. Lucídio Portella, s/nº, Bairro Redenção
Tel: (86) 3229-9047 / 3229-9048

De Petrolina/PE – ônibus diário, uma vez ao dia, a partir do Terminal Rodoviário de Petrolina.
Terminal Rodoviário Governador Nilo Coelho
Avenida Nilo Coelho, s/nº, Bairro Gercino Coelho
Tel: (87) 3862-3200


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